Infelizmente, devido à minha carga atual de trabalho, não tenho disponibilidade para entrevistas on-line, em vídeo ou em texto, para projetos escolares e universitários. Mil desculpas! Mas reuni aqui no FAQ as perguntas que mais recebo em entrevistas. Espero que consiga encontrar respostas que te ajudem no seu projeto!

IMPORTÂNCIA DA LEITURA

Para você, qual a importância da leitura na nossa sociedade?
CA: A literatura tem um papel transformador. Ela molda pensamentos, pode ser terapêutica e ajudar no crescimento pessoal ou ser só um alívio na vida atribulada das pessoas. De um jeito ou de outro, seu papel é extremamente benéfico para a mente e a alma. E é durante a infância que a gente constrói quem seremos no futuro, nossa personalidade. Estimular a leitura nessa etapa é fundamental para desenvolver o aprendizado e senso crítico. É uma forma de pensar e projetar um futuro melhor para nossa sociedade, formando cidadãos inteligentes, conscientes. Entender diversos pontos de vista, nos fazer pensar, sabe? Pensar, mastigar discursos e criar nossas próprias opiniões é o que muda o mundo.

Eu sou leitora desde criança, incentivada pela minha mãe, que costumava ler para mim antes mesmo de eu me alfabetizar, e cresci tendo muito mais facilidade de aprender, de absorver informações, de pensar sobre o mundo. Tudo ficou muito mais intuitivo para mim. Além disso, também encontrei na literatura refúgios, novas formas de pensar a sociedade e a mim mesma. Ela moldou quem eu sou hoje, a minha visão de mundo e as coisas que vivi ou queria viver, ou que ainda quero viver. E foi por causa dessa paixão que comecei a escrever. Eu via na literatura um mundo de possibilidades, e eu queria compartilhar essas possibilidades com outras pessoas. Queria compartilhar minhas vivências, meus sentimentos, expurgá-los mas também ressignificá-los junto com outras pessoas que pudessem sentir o mesmo que eu. Porque eu sei, por experiência própria, o quanto isso pode fazer diferença na vida de alguém.

HISTÓRIA PESSOAL

O que te motivou a começar a escrever romances jovens?
CA: Como leitora, sempre curti ler histórias que falassem comigo. Que falassem dos meus sentimentos, que tivessem a minha linguagem. E encontrei isso muito nova nos livros infantojuvenis e, mais tarde, na literatura jovem-adulta (YA). Foi esse tipo de história que me fez gostar de ler, que foi meu suporte quando enfrentei a fase difícil que é a adolescência e tudo que vem com ela. Era o que eu conhecia e o que me salvou em muitos momentos da vida.

E isso acabou vindo de forma natural na minha escrita. A Clara de 8 anos não fazia isso conscientemente, mas a escrita para mim já começou assim: muito pessoal e íntima. Foi resgatando minhas vivências e meus sentimentos e transformando-os em prosa que encontrei quem eu era como escritora. Mas a maturidade também me fez perceber que hoje eu poderia ter alguns centavos a mais para contribuir na vida de outros jovens que podem ter passado momentos ruins como os meus e que só precisam de alguém que os entenda. A decisão de escrever Conectadasveio justamente dessa minha virada de chave. Do momento em que eu me senti pronta para me entender e me aceitar, e resgatar todos os medos e inseguranças que habitaram a Clara adolescente e ressignificá-los.

Tudo que sonhei a vida toda foi que minhas histórias repercutissem nos outros, como acontecia comigo com as histórias que eu lia quando era jovem (e ainda hoje). Ver meus livros chegando a tanta gente é uma realização gigantesca.

Como foi o processo para entender a sua sexualidade?
CA: Confesso que para mim tem sido um processo muito longo e demorado. Eu me identificava como hétero até começar a faculdade. Mas tive poucas vivências na adolescência e tinha um certo hábito de só me apaixonar por garotos inalcançáveis. Curiosamente, quando eles retribuíam o sentimento, eu me desapaixonava rapidinho (rs). Nunca curti ir pra baladas e pegar várias pessoas e demorei a descobrir o porquê disso: depois de muitos anos, me entender como demissexual provocou uma verdadeira explosão na minha cabeça. Eu sempre me sentia tão diferente dos meus amigos, distante da realidade deles. Às vezes beijava garotos nas festas porque era o protocolo, e não porque queria de verdade.

Comecei a entender que gostava de garotas durante meu primeiro namoro, mas por muito tempo resisti a tentar entender totalmente meus sentimentos, o que eles significavam. Segui o protocolo, fiquei num relacionamento que já não estava dando mais certo há muito tempo e me escondi de mim mesma. Escrever Conectadas foi o momento de sair da inércia: foi quando decidi que era hora de parar de fugir.

Muita coisa mudou de 2018 pra cá, mas às vezes ainda sinto que tenho tanto a aprender sobre mim. E acho que tá tudo bem.

MEUS LIVROS

A que você atribui o sucesso dos seus livros?
CA: Uma mistura de timing certo, boa escrita direcionada ao público certo e o boom das redes sociais (especialmente do TikTok) como forma de divulgação.

Como profissional do livro eu sempre fui muito pé no chão sobre o alcance que um livro nacional conseguiria ter. Meu conceito de sucesso era vender 10 mil exemplares e pronto. Hora de lançar o próximo livro. Pensar que hoje eu já vendi mais de 100 mil exemplares com Conectadas, que a história continua sendo procurada, elogiada, que meu segundo livro está sendo traduzido para o inglês e sendo publicado pela Scholastic... Parece que a qualquer minuto eu vou acordar desse sonho.

Conectadas vai ter continuação?
CA: A princípio, sem planos para isso. (Nem para um spin-off do Leo)

Vai ter mais livros de A profecia e A lenda da sereia?
CA: Sim! Os contos fazem parte da série Sereia apaixonada, que deve contar com um último conto ainda. Acompanhe as minhas redes sociais para receber as novidades.

Não sou do Brasil, consigo comprar seus livros?
CA: Meus livros independentes estão disponíveis em todas as lojas da Amazon na versão e-book. Já a versão em e-book dos livros publicados por editora só pode ser comprada se você tiver um endereço no Brasil cadastrado. No caso dos livros físicos, você pode procurar algum marketplace ou, se você for de Portugal, tentar encomendar pela Livraria da Travessa de Lisboa. Para Conectadas, Romance real e De repente adolescente, tente também entrar em contato com sac@companhiadasletras.com.br para descobrir se existe alguma loja próxima de você.

Se você for dos Estados Unidos, pode comprar a versão em inglês de Romance real: LONDON ON MY MIND! O livro está em pré-venda e vai ser lançado no dia 4 de junho.

DICAS E CONSELHOS

Quais dicas você daria para as pessoas adquirirem o hábito de ler?
CA: Acho que no geral a dica é mais para quem ensina, para quem tem o poder de estimular: deem livros que as crianças e jovens vão gostar de ler. Que falem com eles, com suas dores, com seus sonhos. Depois que eles pegarem o gosto pela leitura, vão encontrar todas as mil possibilidades da literatura. Mas é imprescindível que esse hábito seja estimulado.

O que é preciso para se tornar escritor?
CA: Gostar de escrever, estar disposto a ouvir críticas, ser persistente mesmo quando tudo parece difícil (porque vai ser, enquanto não vivermos num país que valorize a cultura) e, muito importante: ser um ótimo fofoqueiro! Hahaha Brincadeiras à parte, um escritor precisa ser um bom observador e estar sempre em movimento, estudando e aprendendo. Conhecimento nunca é demais. Estude o que você gosta, leia muito, faça cursos de escrita criativa e se mantenha em constante evolução.

Mas não esqueça do essencial: no fim do dia, não importa o quanto você estudou, para começar a escrever você precisa simplesmente sentar e escrever!

Se você pudesse dar um conselho para si mesma quando estava tentando entender sua sexualidade, qual seria?
CA: Você não precisa caber na caixinha que o mundo coloca em você nem atender às expectativas de outras pessoas. Seja você e seja feliz. Isso é tudo que importa de verdade.

PROCESSO DE ESCRITA E PUBLICAÇÃO

Como é o seu processo de escrita?
CA: Geralmente eu começo colocando a ideia que tive em uma sinopse. Depois penso nos personagens principais, crio moodboards no Pinterest e fichas de personagens para entender quem eles são e qual sua história. Quando tenho isso mais fechadinho, faço um resumão para o livro, do começo ao fim. Só depois disso é que começo a escrever. O tempo de produção varia de história para história, e dependendo do meu momento. Escrevi Conectadas em 2 meses e meio, mas levei mais de 2 anos pra terminar Romance real!

Como é o processo de publicação dos livros?
CA: Depende muito. No caso do independente, pode ser o autor pagando tudo e procurando gráficas para imprimir o livro. Pode ser pagando uma editora para fazer esse trabalho. Pode ser através da publicação digital (que gera menos gastos). No caso da publicação tradicional, é a editora que gerencia e paga por todo o processo. Desde a edição textual do livro, passando pelo design de capa e diagramação até a distribuição e comercialização.

Na sua trajetória, você teve muita dificuldade para conseguir que uma editora publicasse um livro seu?
CA: Tive dificuldade de chegar até as editoras. Escrevo na internet desde 2008, mas nunca tive uma oportunidade real de apresentar minhas obras pra alguma editora porque é um mercado muito fechado. Foi só quando me tornei uma agenciada da Increasy que as coisas andaram.

Como é o mercado de trabalho para escritores?
CA: No Brasil, ainda é muito difícil ser um autor publicado por editoras tradicionais. É um mercado dominado pelo estrangeiro, não só por parte das editoras mas também dos leitores. Acho que hoje essa é a maior dificuldade de ser escritora: enfrentar o preconceito contra autores nacionais — e mais ainda contra autores nacionais de livros “não literários” jovens e contemporâneos.

Além disso, viver de escrita é um grande desafio. O investimento que se tem em cultura num país economicamente instável, com um salário mínimo que mal paga as contas básicas, é baixíssimo. E isso se reverte no salário dos autores, que além de variar muito na maioria das vezes mal chega a uma quantia digna. Na maioria das vezes, você só vai ter um bom retorno financeiro se for um autor best-seller. E, ainda assim, é um trabalho de constante manutenção, porque as vendas não seguem uma linearidade.

BOOKTOK

Qual sua opinião sobre a influência do TikTok na divulgação da literatura?
CA: Até o boom do BookTok no Brasil, eu estava lutando para vender Conectadas. Chegar nos leitores foi uma das minhas maiores dificuldades como autora publicada, ainda mais quando começou a pandemia. E aí de repente comecei a usar o TikTok e viralizar com alguns vídeos, os leitores começaram a indicar Conectadas no TikTok… e quando percebi o livro estava em listas de mais vendidos, vendendo o dobro, o triplo do que já tinha vendido em um ano. Foi surreal. Eu acho que é uma plataforma que tem um potencial gigantesco, principalmente de dar destaque a uma galera super criativa e dedicada a disseminar a literatura. Eu já tentei ser mais presente nas redes e é muito difícil ser tão organizada e inspirada assim para tantos conteúdos. Admiro demais o trabalho dos influenciadores. Mas ainda sinto que podemos usar o potencial do BookTok pra fazer mais livros independentes acontecerem. Eu vejo que isso é algo muito comum lá fora, mas aqui no Brasil ainda tem muita resistência a livros nacionais, especialmente os Indies. E acho que o BookTok tem total poder pra mudar isso.

REPRESENTATIVIDADE LGBTQIAP+

Nos últimos anos houve um crescimento no lançamento de obras voltadas para comunidade LGBTQIAP+, como você enxerga o impacto desses livros na nossa comunidade, especialmente na vida de mulheres que gostam de mulheres?
CA: São tantos impactos positivos que é até difícil enumerar. Acho que o primeiro deles é: autoconhecimento. Quando você cria um leque de possibilidades de histórias, com diferentes vivências, pontos de vistas, espalhadas por todo lugar, na internet, no celular, nas livrarias — você tá dando a essas mulheres a possibilidade de se enxergarem, de se entenderem, de perceberem que tá tudo bem ser quem elas são e que elas não estão sozinhas. E de tudo isso acontecer cedo, naquele momento crucial da nossa formação. Um outro impacto importante é mais amplo: a formação de uma sociedade mais respeitosa, mais tolerante. Quando você escreve histórias pra jovens, histórias de amor, histórias de fantasia, as histórias que eles sempre leram mas com diversidade você permite que os jovens enxerguem as diferenças, que entendam e estejam abertos a elas. E com isso, a gente vai caminhando para um mundo um pouco melhor.

É perceptível que a literatura trouxe os finais felizes que almejamos, mas como você vê o futuro da representatividade no audiovisual brasileiro? Será que teremos mais histórias leves no futuro?
CA: Eu espero que sim, mas ainda me preocupo um pouco com o audiovisual. Sinto que ele tem andado muito mais lentamente do que a literatura, por vezes (até demais) dando passos para trás. Mesmo quando temos alguma representatividade, as séries são sempre canceladas, ou os filmes não chegam no Brasil, especialmente quando falamos de protagonismo feminino, de amor entre mulheres. Sinto que nesse ponto ainda temos um longo caminho a percorrer, mas como sou sempre otimista: pelo menos já estamos melhor do que estivemos há alguns anos, né?

Perguntas frequentes